sábado, 22 de janeiro de 2011

O Amor É Tão Estranho....

  • O amor não libera a criança que existe dentro de você. O nome disso é cesariana. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz você sentir-se especial. O nome disso é deficiência física. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz ouvir sinos enquanto beija. O nome disso é pegação atrás da igreja. O amor é outra coisa. 
  • O amor não te deixa quente e te leva pra cama. O nome disso é dengue. O amor é outra coisa.
  • O amor não te deixa molinho e manhoso. O nome disso é Rivotril. O amor é outra coisa.
  • O amor não te deixa temporariamente cego. O nome disso é spray de pimenta. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz brotar uma nova pessoa dentro de você. O nome disso é gravidez. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz você ouvir o próprio coração. O nome disso é estetoscópio. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz ficar simpático e amoroso de repente. O nome disso é Natal. O amor é outra coisa.
  • O amor não liberta. O nome disso é "alvará de soltura". O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz ver o mundo cor-de-rosa. O nome disso é baitolice. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz ver tudo com outros olhos. O nome disso é transplante. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz você se sentir sempre acompanhado. O nome disso é encosto. O amor é outra coisa.
  • O amor não te leva por caminhos tortuosos e te assusta de vez em quando. O nome disso é trem fantasma. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz você chorar sem motivos. O nome disso é cebola. O amor é outra coisa.
  • O amor não nos faz perder a noção do tempo. O nome disso é horário de verão. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz você se sentir em outro mundo. O nome disso é autismo. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz arder em chamas. O nome disso é combustão instantânea. Amor é outra coisa.
  • O amor não faz brotar uma nova pessoa dentro de você. O nome disso é gravidez. O amor é outra coisa.
  • O amor não te deixa completamente feliz. O nome disso é Prozac. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz acreditar em falsas promessas. O nome disso é campanha eleitoral. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz esquecer de tudo. O nome disso é amnésia. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz perder a articulação das palavras de repente. O nome disso é AVC. O amor é outra coisa.
  • O amor nao te faz sentir borboletas no estomago, o nome disso é fome. O amor é outra coisa.
  • O amor não te deixa completamente imóvel. O nome disso é trânsito de São Paulo. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz seu mundo girar sem parar. O nome disso é labirintite. O amor é outra coisa.
  • O amor não retribui suas declarações. O nome disso é restituição de imposto de renda. O amor é outra coisa.
  • O amor não leva teu café da manhã na cama e ainda dá na boquinha. O nome disso é enfermeira. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz olhar pro céu e ver tudo colorido. O nome disso é queima de fogos de artifício. O amor é outra coisa.
  • O amor não tira suas defesas. O nome disso é HIV. O amor é outra coisa.
  • O amor não faz o coração bater mais rápido. O nome disso é arritmia. O amor é outra coisa.
  • O amor não te faz ver tudo com outros olhos. O nome disso é transplante. O amor é outra coisa.

    postado por Michê

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Amor Acaba



O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Paulo Mendes Campos




- postado by Madêe Norma Lúcia.


sábado, 28 de agosto de 2010

DUALIDADE

Somos quem somos?
Esta dualidade que me permeia confunde.
Difunde, margeia, semeia caos, candeia.
Sem luz, não conduz, contunde, mareia.

Fomos quem somos?
Tempo, areia me enterra ou aterra, 
me apoia ou me prende,
me tolhe ou distende,
me cala ou me berra.

Calor e frio, vazio, completo
carente, repleto, sonhador, concreto.
Dualidade, maldade, fiel sem balança,
andança, estaguinação, mansidão, pujança.

Metade de mim arde, a outra congela.
Metade de mim é vida, a outra mazela.
Metade de mim irrompe, a outra afunda.
Metade de mim é glória, a outra imunda.

Seremos quem somos?
Somos quem somos?
Dualidade, perversidade ou caridade?
Torvelinho, remanso, ação ou descanso.

Não sei! Se alguém sabe me conte.
Mas conte de manso.
(Jorge Reigada)

postado by Mademoiselle K.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010


" Penso que chega um momento na vida da gente em que o  único dever é lutar ferozmente por introduzir no topo de cada dia, o máximo da eternidade..."

João Guimarães Rosa

  postado by Mademoiselle Li.